domingo, 30 de julho de 2017

Atingem o teto minhas inquietações, amontoadas umas contra as outras. Embaixo de todas me confino, alicerce inabalável. Seriam ainda inquietudes acaso eu me movesse? Não, se acumulam inquietas pela minha inércia. Fosse eu menos pedra e mais vento, estariam quietas e dispersas. Sou a pedra fundamental onde inquietudes assentam-se seguras de não afudar. Só eu afundo, fundamentalmente.

terça-feira, 11 de julho de 2017



Pedras e perdas são parte da vida. Quando tudo parte, essa certeza fica. Solidifica, codificada em velhas pegadas no solo. Ruínas erigidas para acolher civilizações cansadas. Rastros do desgaste com que falo, com que rogo. Rogo ser eu a perda que das pedras se apodera...

Eu costumava planejar minha vida. Em longas fileiras e colunas traçava meus planos, cada célula abrigando quantias exatas de alegrias e desesperos. Eu era o criador de um organismo multicelular, perfeito nos mínimos detalhes. Nada passou despercebido e me esmerei em margens de erro generosas. Mas um vírus penetrou em minhas células e meus planos se perderam. Valores inteiros foram corrompidos, outros tantos apagados e os que restaram intactos já não faziam mais qualquer sentido no contexto geral. Para que planejar tanto quando o X de fora da equação pesa mais do que rocha e a tudo esmaga e torna pó? Organismos estão sujeitos ao ambiente, mas ambientes estão sujeitos às pedras. E ser pedra prefiro. Sem planos me limitando, faço da queda livre um voo.

11/10/2013

sábado, 24 de junho de 2017

Por que me perco entre pesares alheios? Os homens de barro vivem na lama, são lama em busca da fama. Todos perecem em meio a anseios infundados. Fundem-se de volta à terra, mãos escultoras agora esculpidas, amanhã carpidas.  E embaixo desse lamaçal inglório, não me atrevo a me mover.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

A pedreira dos dias me prejudica. Não são uma nem dez, são tantas que sobem muralhas pelo caminho. O que era reto então é torto e já não é possível nada exceto tatear e esgueirar-se pelo labirinto. E se topar comigo pela frente, um praguejo a mais, um chute bem dado e sou posto de lado. Malditos parentes emparedados...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ferrugem me ancorou à terra.  A liberdade dos mares é para os peixes.  Pela terra me arrasto pesado, um fóssil de priscas eras.  Trago pedras na barriga e morte no sorriso.  Que o homem me tema, que me mate, que se queixe.  Ri melhor quem, com mandíbula de pedra, mastiga dinheiro, vidas e pertences.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Minhas convicções eram firmes como pedra e sobre elas me assentei. Quando ruiram, ruí com elas.  Tempos depois, na escuridão do abismo recompus-me pedra, gota a gota.  Mas durante a longa queda foi que percebi: pedra, carne e pena caem sob a ação da mesma força. Mas ao tocar o solo só a pluma permanece intacta. Quem dera tivesse mirado o céu, não a terra.