quinta-feira, 15 de maio de 2014

Os dias correm ligeiros por estradas de paralelepípedos. Não se estendem, não se atrasam. Por que tanta pressa? O que se esconde atrás da linha do horizonte? Curiosidade mórbida de quem, fixo ao solo, vê claro céu azul findar-se sempre no mesmo fio vermelho.  Bordada na vista, retida na retina, a presa da pressa é engolida pela escuridão. Fosse eu dia, ser pedra almejaria.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Certo dia, ou noite, não lembro ao certo, me flagrei falando com pedras. Isso deflagrou em mim uma mudança súbita, como a sensação de acordar sem acordar, de simplesmente saber-se desperto sem recordar ter acordado. A corda em meu pescoço arrebentou e, snap!, lá estava eu, duro e pesado qual pedra, mas... mais vivo que nunca! Após tanto bate-boca irracional com matilha de caninos amarelados, fui apedrejado na falta de melhores argumentos. E foi ali, catando o que de mim restou em meio a meus destroços, que me dei conta da paciência e da rude nobreza das pedras. Encontrei quem me entenda, quem me ouve, quem não se ofende nem se fere com palavras, quem rola pelo chão quando animado, quem é sempre ponderado, quem se esquenta e se esfria na mesma medida. Encontrei, enfim, quem sempre quis ser.